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Olá, pessoal. Criei este blog esperando que o uso da tecnologia na Educação constitua um instrumento capaz de estimulá-los ao estudo da arte de filosofar. Sejam bem-vindos!
terça-feira, 19 de fevereiro de 2019
terça-feira, 21 de março de 2017
Atividade Avaliativa 3º Ano
COMENTE E GANHE!
Leite atentamente os textos abaixo, comente-os, e ganhe 0,5 ponto.
TEXTO 01
A metafísica da Modernidade 01
A modernidade tem com principal característica a razão, portanto a teoria do conhecimento.
Na idade média a razão será usada para questionar o conhecer, sendo assim terá duas vertentes:
“O racionalismo engloba as doutrinas que enfatizam o papel da razão no processo do conhecimento.”
“O empirismo é a tendência filosófica que enfatiza o papel da experiência sensível no processo do conhecimento.”
O principal representante, René Descartes, estabelece quatro regras para o pensamento racional, a analise, ordem, enumeração e evidência. Sendo assim havia três tipos de ideias as que nascem com a pessoa (inatas), que vieram de fora (adventícias) e as feitas e inventadas por nós (factícias).
Ao contrario do racionalismo, o empirismo enfatiza o papel dos sentidos e da experiência sensível no processo do conhecimento. Grosseteste e Bacon já realçavam a importância da ciência na humanidade.
Francis Bacon é conhecido como crítico da filosofia medieval, aspirava a um saber instrumental que possibilitasse o controle da natureza. Bacon critica a lógica aristotélica pois considera a dedução inadequada para o progresso da ciência. Ele inicia seu trabalho pela denúncia dos preconceitos e das noções falsas que dificultavam a razão que os chama de ídolos. São divididos em quatro : Os ídolos da tribo, da caverna, do mercado e do teatro. Portanto valoriza a experiencia de modo que se pode provar o que acontece.
John Locke critica a doutrina das ideias incertas de descartes, dizendo que o conhecimento começa a partir da experiencia sensível, distinguindo assim duas vertentes da origem de nossas ideias : a sensação e a reflexão. A sensação diz que podemos perceber coisas primarias e secundárias nas quais as primarias são objetivas e as secundarias subjetivas. Já a reflexão é reduzia da experiencia interna, resultante da experiencia externa, assim a razão reúne ideias que entram em conexão entre si, podendo vir a ficar de simples a complexas. Locke conclui que, ao contrário ao que Descartes diz, não podemos ter ideias claras e distintas.
David Hume diz que o conhecimento tem inicio a traves de cada pessoa, podendo ser impressões ou ideias, considerando que a única coisa a diferenciá-las é o modo que a pessoa interpreta a força e vivacidade que chegam a sua mente. O sentir se distingue do pensar pelo seu grau de intensidade. Portanto Hume conclui que a única base para as ideias ditas gerais é a crença, sem a certeza.
A Metafísica da Modernidade 02
As mudanças da modernidade
De fato estava sendo gestado um novo período na história ocidental, com mudanças de amplo espectro: sociais, políticas, morais, literárias, artísticas, científicas, religiosas e também filosóficas. A contraposição ao pensamento medieval estimulou a recuperação da cultura greco-latina, agora sem a intervenção da religião, o que denotava a laicização do pensamento, isto é, agora sem a intervenção da religião o indivíduo pode pensar por ele mesmo e, se quiser, não acreditar no que a igreja fala. SE antes o foco da reflexão era a teologia, na modernidade prevalece a visão antropocêntrica.
A questão do método
A revolução científica quebrou o modelo de inteligibilidade do aristotelismo e provocou o receio a novos enganos.
Até então os filósofos partia do problema do ser, na Idade Moderna voltam-se para as questões do conhecer. Antes perguntava-se: "Existe alguma coisa?" ; "Isto que existe, o que é?". Na Idade Moderna o problema não é saber se as coisas são, mas se nós podemos eventualmente conhecê-las. Portanto , as perguntas são outras: "O que é possível conhecer?"; "Qual o critério de certeza para saber se há adequação entre o pensamento e o objeto?" .
As soluções apresentadas a esse problema deram origem a duas correntes filosóficas, uma com ênfase na razão, outra no sentidos.
- o racionalismo : que engloba as doutrinas que enfatizam o papel da razão no processo do conhecimento. Seu principal representante foi René Descartes.
- o empirismo : tendência filosófica que enfatiza o papel da experiência sensível no processo do conhecimento. Seus principais representantes foram: Francis Bacon, John Locke e David Hume.
Racionalismo cartesiano: a dúvida metódica
Descartes é considerado o "pai da filosofia moderna", porque enfatizou a capacidade humana de construir o próprio conhecimento.
Seu propósito inicial foi encontrar um método tão seguro que o conduzisse a verdade indubitável. Como sabemos, esse conhecimento é inteiramente dominado pela inteligência- e não pelos sentidos- e baseado na ordem e na medida, o que lhe permite estabelecer cadeias de razões, para deduzir uma coisa de outra.
Para tanto, Descartes estabelece quatro regras:
- da evidência: acolher apenas o que parece ao espírito como ideia clara e distinta;
- da análise: dividir cada dificuldade em parcelas menores pra resolvê-las por partes;
- da ordem: conduzir por ordem os pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer pra só depois lançar-se aos mais compostos;
- da enumeração: fazer revisões para ter certeza de que nada foi omitido.
Cógito, ergo sum
Esse "eu" é ouro pensamento, uma res cogitans (um ser pensante). Portanto, é como se dissesse: "existo enquanto penso".
Para ir além dessa primeira intuição do cogito Descartes examina se haveria no espírito outras ideias igualmente claras e distintas. Distingue então três tipos de ideias:
- as que parecem terem "nascidos comigo" (inatas) ;
- as que "vieram de fora" (adventícias) ;
- as que foram "feitas e inventadas por mim mesmo" (factícias).
O cogito é uma ideia que não deriva do particular - não ´do tipo que "vêm de fora", formadas pela ação dos sentidos - nem tampouco é semelhante às que criamos pela imaginação, ao contrário, já se encontram no espírito, como fundamento para a apreensão de outras verdades.
Portanto, são ideias inatas, verdadeiras, não sujeitas a erro, pois vêm da razão.
A Ideia de Deus
Essa ideia de fato existe na mente, o que garante que represente algo real? Ou seja, Deus existe de fato?
Ora, a ideia de um Deus infinito faz pensar que a infinitude repousa na ideia de um ser perfeito.
Deus é a ideia de um ser perfeito; se um ser é perfeito, deve haver a perfeição da existência, caso contrário lhe faltaria algo para ser perfeito. Portanto, ele existe.
quarta-feira, 8 de março de 2017
ATIVIDADE AVALIATIVA I UNIDADE - 2ª SÉRIES
COMENTE E GANHE!
O texto abaixo é uma síntese dos assuntos do módulo, p. 13 a 15, trabalhados em sala de aula. Leia atentamente, comente e ganhe 0,5 ponto.
O texto abaixo é uma síntese dos assuntos do módulo, p. 13 a 15, trabalhados em sala de aula. Leia atentamente, comente e ganhe 0,5 ponto.
"Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém [...]". (Carta do Apóstolo Paulo aos cristãos. Coríntios 6:12) Tudo posso, tudo quero, mas eu devo? Quero, mas não posso. Até posso, se burlar a regra; mas eu devo? Segundo o filósofo Mário Sérgio Cortella, ética é o conjunto de valores e princípios que [todos] usamos para definir as três grandes questões da vida, que são: QUERO, DEVO, POSSO. Tem coisas que eu quero, mas não posso. Tem coisas que eu posso, mas não devo. Tem coisas que eu devo, mas não quero. Cortella complementa "Quando temos paz de espírito? Temos paz de espítito quando aquilo que queremos é o que podemos e é o que devemos." (Cortella, 2009). Imagem Toscana, Itália.
AS QUATRO ESCOLAS DO HELENISMO
Introdução
A morte de Alexandre III em 323 assinala, tradicionalmente, o fim da polis como modelo de unidade política e o começo da difusão da cultura grega no Oriente. Nem mesmo a meteórica expansão de Roma e a conquista das monarquias helenísticas foi capaz de afetar, posteriormente, a predominância cultural do helenismo em todo o Mediterrâneo Oriental.
Durante o conturbado Período Helenístico, o homem deixou de ser o componente mais importante de uma comunidade restrita para se tornar um simples cidadão de vastos impérios. A perda da importância política individual fez muitos se dedicarem cada vez mais à busca da felicidade pessoal através da religião, da magia ou da Filosofia.
As principais escolas filosóficas do Período Helenístico foram o cinismo, o ceticismo, o epicurismo e o estoicismo. Todas procuravam, basicamente, estabelecer um conjunto de preceitos racionais para dirigir a vida de cada um e, através da ausência do sofrimento, chegar à felicidade e ao bem-estar.
Das antigas escolas filosóficas, a Academia envolveu-se durante algum tempo com o ceticismo, e depois voltou ao caminho original, traçado por Platão; o Liceu, fundado por Aristóteles, afastou-se cada vez mais da filosofia e da erudição e se devotou, principalmente, à literatura.
O Período helenístico caracterizou-se por um processo de interação entre a cultura grega clássica e a cultura dos povos orientais conquistados. Substituiu-se a vida pública pela vida privada como centro de reflexões filosóficas.
A reflexão política foi abandonada pela Filosofia. Na filosofia Greco-romana, que corresponde à fase militar de Roma, não houve grandes novidades, pois o principais pensadores dedicaram-se basicamente à tarefa de assimilar e desenvolver as contribuições culturais herdadas da Grécia Clássica.
As principais correntes filosóficas desse período vão tratar da intimidade, e da vida interior do ser humano. Entre as principais tendências desse período destaca-se o epicurismo, o estoicismo, o pirronismo e o cinismo.
EPICURISMO: O PRAZER
O epicurismo, de Epicuro (324-271 a.C.) – propunha a ideia de que o ser humano deve buscar o prazer da vida. No entanto, distinguia, entre os prazeres, aqueles que são duradouros e aqueles que acarretam dores e sofrimentos, pois o prazer estaria vinculado a uma conduta virtuosa. Para Epicuro, o supremo prazer seria de natureza intelectual e obtido mediante o domínio das paixões. Os epicuristas procuravam a ataraxia, termo grego que usavam para designar o estado em que não havia dor, de quietude, serenidade, imperturbabilidade da alma. O epicurismo, posteriormente, serviu de base ao hedonismo, filosofia que também defende a busca do prazer, mas que não diferencia os tipos de prazeres, tal como faz Epicuro. Defendia que o prazer é o princípio e o fim de uma vida feliz.
Epicuro defendia dois grandes grupos de prazeres. O primeiro reúne os prazeres mais duradouros, que encantam o espírito, como a boa conversação, a contemplação das artes, a audição da música etc. O segundo inclui os prazeres mais imediatos, muitos dos quais são movidos pela explosão das paixões e que, ao final, podem resultar em dor e sofrimento.
Para desfrutar dos prazeres do intelecto é necessário dominar os prazeres exagerados da paixão.
ESTOICISMO: O DEVER
O estoicismo, de Zenão de Cício (334-262 a.C.) – os representantes desta escola, conhecidos como estoicos, defendiam uma atitude de completa austeridade física e moral, baseada na resistência do homem ante os sofrimentos e os males do mundo. Seu ideal de vida, designado pelo termo grego apathéia (que costuma ser mal traduzido por "apatia"), era alcançar uma serenidade diante dos acontecimentos fundada na aceitação da "lei universal do cosmos", que rege toda a vida. Fundado pelas ideias de Zenão de Cício, Defendiam a noção de que toda a realidade existente é uma realidade racional.
O que chamamos de Deus, nada mais é do que a fonte dos princípios racionais que regem a realidade.
Zenão propõe o dever, vinculado à compreensão da ordem cósmica, como o melhor caminho para a felicidade.
CETICISMO: A SUSPENSÃO DO JUÍZO
O ceticismo (pirronismo), de Pirro de Élis (365-275 a.C.) - segundo suas teorias, nenhum conhecimento é seguro, tudo é incerto. O pirronismo defendia que se deve contentar com as aparências das coisas, desfrutar o imediato captado pelos sentidos e viver feliz e em paz, em vez de se lançar à busca de uma verdade plena, pois seria impossível ao homem saber se as coisas são efetivamente como aparecem. Assim, o pirronismo é considerado uma forma de ceticismo, que professa a impossibilidade do conhecimento, da obtenção da verdade absoluta.
Fundado a partir das ideias de Pirro de Élis, foi uma corrente filosófica que defendia a ideia de que tudo é incerto, nenhum conhecimento é seguro, qualquer argumento pode ser contestado.
Desse modo, aceitando que das coisas só se podem conhecer as aparências e desfrutando o imediato captado pelos sentidos, as pessoas viveriam felizes e em paz.
CINISMO: ALÉM DAS CONVENÇÕES
O cinismo - o termo cinismo vem do grego kynos, que significa "cão", e designa a corrente dos filósofos que se propuseram a viver como os cães da cidade, sem qualquer propriedade ou conforto. Levavam ao extremo a filosofia de Sócrates, segundo a qual o homem deve procurar conhecer a si mesmo e desprezar todos os bens materiais. Por isso Diógenes, o pensador mais destacado dessa escola, é conhecido como o “Sócrates demente”, ou o “Sócrates louco”, pois questionava os valores e as tradições sociais e procurava viver estritamente conforme os princípios que considerava moralmente corretos. Sãos inúmeras as histórias e acontecimentos na vida desse filósofo que o tornaram uma figura instigante da história da filosofia.
Cínico, do grego kynicos, significa “como um cão”. Designa assim a corrente dos filósofos que se propuseram viver como os cães da cidade, sem qualquer propriedade e conforto.
Levavam ao extremo a tese socrática de que o ser humano deve procurar conhecer a si mesmo e desprezar todos os bens materiais.
FONTES: (COTRIM, G. Fundamentos da filosofia. São Paulo: Saraiva, 2005, pp.105-106) in http://jaueras.blogspot.com.br/2010/01/as-quatro-escolas-do-helenismo.html
ATIVIDADE AVALIATIVA I UNIDADE - 1 SÉRIES OPÇÃO
COMENTE E GANHE!
O texto abaixo é uma síntese dos assuntos do módulo trabalhados em sala de aula. Leia atentamente, comente e ganhe 0,5 ponto.
1) O que é o mito? Para que/quem ele serve?
O texto abaixo é uma síntese dos assuntos do módulo trabalhados em sala de aula. Leia atentamente, comente e ganhe 0,5 ponto.
1) O que é o mito? Para que/quem ele serve?
O mito faz parte da história humana desde os primórdios e nunca deixou de estar presente: na pré-história, onde as pinturas rupestres tinham um significado mágico, ou na afirmação de John Lennon, na década de 60, de que os Beatles eram mais importantes do que Jesus Cristo, o traço comum é a necessidade humana de criar “ídolos”.
O mito é um “relato das origens” e que, enquanto tal, tem uma função de instauração: só há mito se o acontecimento fundador não tem lugar na história, mas num tempo antes da história. O mito diz sempre como nasceram as coisas, as instituições, as regras etc.
Explica Mercia Eliade que o mito, ao contar uma história sagrada revela um mistério: “porque as personagens do mito não são seres humanos: são deuses ou heróis civilizadores, e por esta razão as suas “ações memoráveis” constituem mistérios: o homem não poderia conhecê-los se não lhos revelassem. O mito é, pois, a história do que se passou ‘naquele tempo’, a narração daquilo que os Deuses ou os seres divinos fizeram no começo do Tempo. ‘Dizer’ um mito é proclamar o que se passou ‘desde a origem’. Uma vez ‘dito’, quer dizer, revelado, o mito torna-se verdade apoditica: funda a verdade absoluta.” O mito se institucionaliza e torna-se inquestionável: é assim porque dizem que é assim.
Como o mito ganha força? O que o torna tradição? O mito funda o rito, o ritual em que uma determinada ordenação do mundo é reafirmada. Em verdade, o rito muitas vezes reapresenta o mito e o reafirma como um modelo de ação para a comunidade.
Os mitos, então, se ligam a fundação do Estado e a preservação de certos interesses de classe. Esses interesses estão ocultos, no entanto, os mitos poderiam ser manipulados pelos que detém o poder, uma vez que, serviram de fundamento para os primeiros códigos de leis, em sua maioria de caráter consuetudinário (leis não escritas ).
As tradições sociais e os seus ideais tendem a ser tomados ou incorporados em mitos. A sociedade de consumo capitalista, em sua ânsia por vender e criar “novidades”, sempre repõe os seus ídolos ( da mesma forma que os “consome” ).
2) A mitologia grega e a explicação da Natureza
Ainda que as cidades-estado gregas fossem independentes entre si, a religião era um fator de unidade na Grécia Antiga. Embora as crenças divergissem com o tempo e o local, o politeísmo, o antropomorfismo, a ideia de que os deuses estariam continuamente interferindo na vida cotidiana dos homens e de que esses possuiriam sentimentos próximos aos humanos, são traços comuns na civilização grega.
Os deuses gregos estariam “por trás” de raios e trovões, vitórias e derrotas, riqueza e pobreza, inspiração e desencanto, etc. Eles personificariam sentimentos (como Afrodite, deusa do amor ), conceitos (como Moira, deusa do Destino) ou elementos da Natureza (como Poseidon, deus dos mares ). Entre eles haveria rivalidade e amizade, tramas e traições, delitos e punições.
Os feitos dos deuses formariam relatos (mitos) que eram transmitidos de geração à geração pelos aedos (poetas e declamadores ambulantes), que, inspirados pelos deuses, cantariam suas façanhas. As narrativas orais estavam propensas a serem modificadas com o tempo e davam base para a organização da estrutura social aristocrática da polis.
Atribui-se ao poeta Homero fato de ter escrito os poemas épicos Ilíada e Odisseia, nos quais narrava a luta entre gregos e troianos e a volta de Odisseu/Ulisses a sua pátria. Nessas narrativas, são constantes as interferências de deuses no transcurso dos acontecimentos. No entanto, na com a narrativa de Homero as potências misteriosas e ocultas dos deuses gregos ganham uma forma definida, o que abre espaço para a compreensão da divindade e para a perca de sua aura de mistério. O antropomorfismo descreve a divindade de uma forma que não aterroriza o homem por ser semelhante a ele (os deuses homéricos são mesmo animados por sentimentos e paixões humanas ).
Outro poeta importante foi Hesíodo, que escreveu a Teogonia, onde narra a origem dos deuses, e O Trabalho e os Dias, que narra as diversas eras pelas quais teria passado a humanidade.
Com o crescimento do comércio e com a busca de novos fundamentos para as leis que traduzissem as transformações econômicas, os mitos começam a dar lugar a uma busca por explicar a natureza (physis ) de maneira racional. Nesse esforço, surge a filosofia. Para o historiador Pedro Paulo Funari “O que há de novo na Filosofia, consiste, justamente, na humanização, na passagem dos relatos recebidos da mitologia para sua explicação pelos homens. A grande novidade da Filosofia consistiu em analisar as razões das coisas, à luz da experiência cotidiana, sem muita consideração pelos antigos mitos. Esta passagem não é resultado de um “milagre” inexplicável, mas se liga às diferenças entre as sociedades dos relatos mitológicos e o mundo das cidades, das poleis. Ou seja, foi a nova vida material e cultural nas cidades, com suas novas relações sociais, que propiciou o desenvolvimento de uma nova forma de pensar sobre o mundo. Na mitologia, os deuses espelham um mundo de reis e nobres e o Olimpo é imaginado à imagem da sociedade aristocrática. Nas cidades gregas surgem novas formas políticas, o antigo poder real desaparece. O próprio nome para designar o rei, basileus, é abandonado e as antigas explicações perdem parte do seu sentido. Chuvas ventos, tempestades, raios, antes manifestações do poder real/divino, puderam passar a ser fenômenos explicáveis pelo homem, problemas a serem discutidos pelos homens. A cidade, por sua parte, torna-se o lugar da discussão, na medida em que os homens se reúnem para tratar dos seus assuntos, não para obedecer ao soberano. Não são mais súditos do rei submetidos à sua vontade, mas sujeitos de seu próprio discurso em praça pública, de seu logos. Se dos tempos aristocráticos se mantém themis e thesmos, as determinações divinas, introduzem-se agora os nomoi, as regras ou leis estabelecidas pelos próprios homens. Isto permite que a nascente filosofia apresente duas características essenciais: um pensamento que prescinde do divino e que é abstrato. Não é, portanto, à toa que, mais adiante no século IV a. C. , Aristóteles define o próprio homem como aquele que vive na polis e nem que boa parte das reflexões filosóficas centrem-se sobre a cidade e a vida pública.”
Surgiram então as primeiras tentativas de compreender a Natureza sem recorrer a mitologia. A cisão entre racionalidade e mito não foi algo repentino, mas pode-se perceber mesmo uma espécie de continuidade entre o pensamento mítico e o pensamento filosófico. Não é a toa que uma das afirmações atribuídas a Tales de Mileto, considerado o primeiro a tentar compreender a natureza por meio de explicações racionais foi: “tudo está cheio de deuses”.
Outra opinião
Marilena Chauí pontua as diferenças entre mito e filosofia de forma diferente:
“Confrontando-se as narrativas míticas e a filosofia dos pré-socráticos, há uma série de diferenças que é preciso salientar. Em primeiro lugar, enquanto os mitos buscavam narrar como as coisas teriam acontecido em uma época longínqua e imemorial, muito antes do tempo presente, os filósofos se incumbiram da tarefa de explicar as características da realidade de qualquer tempo, seja ele passado, presente ou futuro. Em segundo lugar, é próprio dos mitosfalar sobre a origem de todas as coisas referindo-se a genealogias divinas, ou então a rivalidades e alianças entre os deuses. Como vimos, os mitos explicam a origem das estações do ano por meio de um incidente envolvendo os deuses Hades, Deméter e Perséfone, da mesma forma que atribuem o surgimento dos males terrenos à rivalidade entre Zeus e Prometeu. A filosofia, por outro lado, evita recorrer a causas sobrenaturais, esforçando-se por encontrar naprópria natureza as causas do surgimento dos seres e de suas transformações. E, em terceiro lugar, se as narrativas míticas não estavam livres de contradições, e caracterizavam-se pelo seuconteúdo fabuloso e muitas vezes incompreensível, os filósofos, por sua vez, não aceitam contradições em suas ideias, nem se utilizam de explicações fabulosas ou misteriosas. Ao contrário dos mitos, que têm sua autoridade baseada na pessoa que o narra – geralmente alguém a quem se atribui uma revelação divina –, a filosofia fundamenta sua autoridade na razão comum a todos os seres humanos, e por isso constitui um discurso coerente, lógico e racional.”
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017
O QUE É METAFÍSICA?
(texto introdutório)
Texto extraído de Cartografias conceituais: uma abordagem da filosofia contemporânea (Natal: Edufrn 2008) - C.F. Costa
(1) O primeiro sentido é tributário da definição aristotélica de metafísica como investigação do ser enquanto ser e também possivelmente como investigação da substância. É tendo em mente esse sentido que M. J. Loux formula a seguinte definição de metafísica:
METAFÍSICA: SENTIDOS PRÓPRIOS E IMPRÓPRIOS
Quando queremos testar a coerência de um conceito, uma estratégia prometedora pode ser a de investigar as suas origens. No caso do conceito contemporâneo de metafísica essa estratégia é particularmente recomendável, visto que podemos identificar a sua origem de maneira precisa no título dado a uma das obras de mais profunda e duradoura influência de toda a tradição filosófica ocidental: a Metafísica de Aristóteles(1).
I
Como é sabido, o grupo de quatorze manuscritos que constitui a Metafísica não foi assim denominado pelo próprio Aristóteles. Ele tinha um outro termo para o que estava tentando fazer, que era ‘filosofia primeira’, a ciência buscada, por vezes também chamada de ‘teologia’. Historicamente sabemos que após a morte de Aristóteles em 322 a.C., os escritos de filosofia primeira, junto ao corpus aristotelicum, permaneceram perdidos por mais de duzentos anos, até que foram resgatados por um admirador de Aristóteles, Tirânio, que os confiou a Andrônico de Rodes, o qual os editou no primeiro século a.C. Segundo uma interpretação corrente, Andrônico teria cunhado o título ‘Metafísica’ por razões meramente editoriais, pois na ordem legada dos escritos aristotélicos os ensaios de filosofia primeira deveriam ser publicados depois da física Aristotélica, visto que a expressão ‘metafísica’ significa ‘depois da física’(2). Segundo uma interpretação concorrente, contudo, haveria mais do que isso no título(3). Andrônico, provavelmente seguindo algum peripatético anterior, estaria se referindo ao fato de que para Aristóteles a filosofia primeira deveria tratar daquilo que vai além da física, daquilo que a transcende, visto que o termo ‘metafísica’ pode significar também ‘para além da física’ ou ‘o que está acima da física’.
Sabendo que originariamente a metafísica foi um outro nome para a filosofia primeira de Aristóteles, a questão se desloca para o que este filósofo queria dizer com esta última expressão. As definições de Aristóteles para a filosofia primeira são pelo menos quatro:
Sabendo que originariamente a metafísica foi um outro nome para a filosofia primeira de Aristóteles, a questão se desloca para o que este filósofo queria dizer com esta última expressão. As definições de Aristóteles para a filosofia primeira são pelo menos quatro:
(a) A ciência das causas ou princípios primeiros.
(b) A ciência do ser enquanto ser.
(c) A indagação sobre a substância.
(d) A indagação sobre Deus e a substância supra-sensível.
(b) A ciência do ser enquanto ser.
(c) A indagação sobre a substância.
(d) A indagação sobre Deus e a substância supra-sensível.
A ciência das causas ou princípios primeiros é a investigação da arché, tal como foi intentada pelos pré-socráticos, que buscavam um princípio físico último, causador e sustentador do universo, ou por Platão, com a sua doutrina das idéias, as quais teriam a função de condicionar toda a realidade. A ciência do ser enquanto ser é a que tem a sua origem na investigação ontológica da physis em Parmênides, assim como a investigação ontológica das idéias em Platão. A indagação sobre a substância é sobre aquele ser que é mais fundamental por existir na independência dos demais e do qual outros modos de ser dependem. Por fim, a metafísica como teologia é uma indagação sobre Deus e os seus princípios.
Aristóteles achava que a filosofia primeira é, dentre as ciências, a mais nobre e superior, pois ela se faz na independência de qualquer aplicação prática, sendo o motivo para a investigação metafísica um puro e desinteressado desejo de saber, advindo daquilo que o homem tem de mais essencial, que é o uso da razão e da inteligência. Para Aristóteles, ao refletir sobre questões metafísicas o homem exercita virtudes contemplativas que o tornam semelhante aos deuses.
São as várias definições que Aristóteles dá para a metafísica realmente complementares umas com as outras? Ao menos sob um ponto de vista imanente ao sistema aristotélico, parece que sim, mesmo que essa complementaridade seja até mais vaga e problemática do que as próprias definições, e que hoje ela se nos afigure inverossímil. Assim, na interpretação de Giovanni Reale(4), a indagação sobre (a) (primeiras causas e princípios) deve conduzir-nos a (d) (Deus). A indagação sobre (b) (o ser enquanto ser) nos leva à questão dos vários sentidos do ser (necessário e acidental, verdadeiro e falso, potência e ato...), este último questionamento nos conduzindo a (c) (o ser por si mesmo, o ser como substância). A indagação sobre (c) (a substância), por fim, nos conduz à questão de se saber se só existem as substâncias sensíveis ou se existem também as substâncias supra-sensíveis ou divinas, ou seja, (d) (Deus, o primeiro movente imóvel e as 55 inteligências puras, moventes imóveis dos céus).
Aristóteles achava que a filosofia primeira é, dentre as ciências, a mais nobre e superior, pois ela se faz na independência de qualquer aplicação prática, sendo o motivo para a investigação metafísica um puro e desinteressado desejo de saber, advindo daquilo que o homem tem de mais essencial, que é o uso da razão e da inteligência. Para Aristóteles, ao refletir sobre questões metafísicas o homem exercita virtudes contemplativas que o tornam semelhante aos deuses.
São as várias definições que Aristóteles dá para a metafísica realmente complementares umas com as outras? Ao menos sob um ponto de vista imanente ao sistema aristotélico, parece que sim, mesmo que essa complementaridade seja até mais vaga e problemática do que as próprias definições, e que hoje ela se nos afigure inverossímil. Assim, na interpretação de Giovanni Reale(4), a indagação sobre (a) (primeiras causas e princípios) deve conduzir-nos a (d) (Deus). A indagação sobre (b) (o ser enquanto ser) nos leva à questão dos vários sentidos do ser (necessário e acidental, verdadeiro e falso, potência e ato...), este último questionamento nos conduzindo a (c) (o ser por si mesmo, o ser como substância). A indagação sobre (c) (a substância), por fim, nos conduz à questão de se saber se só existem as substâncias sensíveis ou se existem também as substâncias supra-sensíveis ou divinas, ou seja, (d) (Deus, o primeiro movente imóvel e as 55 inteligências puras, moventes imóveis dos céus).
II
Em que essas idéias, provenientes de uma concepção de mundo tão distante da nossa, podem nos ajudar a distinguir e avaliar os sentidos contemporâneos da palavra ‘metafísica’? Penso que podemos distinguir naquilo que presentemente é chamado de metafísica ao menos cinco sentidos mais importantes, sendo possível demonstrá-los como tributários de sentidos aristotélicos. Deles somente o primeiro é plenamente justificado.
(1) O primeiro sentido é tributário da definição aristotélica de metafísica como investigação do ser enquanto ser e também possivelmente como investigação da substância. É tendo em mente esse sentido que M. J. Loux formula a seguinte definição de metafísica:
Ela procura identificar as mais universais características da realidade ou do ser; e central a esse projeto é a identificação das categorias ou espécies mais gerais sob as quais as coisas caem, a especificação do que distingue esses tipos ou categorias uns dos outros, e a identificação dos tipos de relação que ligam objetos de diferentes categorias entre si.(5)
Em outras palavras: a metafísica objetiva investigar a natureza geral da realidade, ou seja, os componentes mais gerais do mundo, presentes em seus mais diversos níveis, e os modos como eles se relacionam entre si(6). Os principais candidatos a componentes comuns a todos os domínios e níveis de objetividade são coisas tais como a propriedade, a relação, a existência, o número, o espaço e o tempo, a necessidade e a possibilidade, os particulares, o fato, o estado de coisas, o evento, o processo, a identidade e a mudança, a causação. Os conceitos referentes a tais componentes são tão universais que se aplicam a entidades pertencentes a um domínio de objetividade muito mais amplo do que o dessa ou daquela ciência empírica particular. Por exemplo: tanto a física quanto a química, a biologia, a psicologia, a sociologia e a história, estudam classes de objetos, os quais podem existir ou não, ser necessários ou não, juntamente com as suas propriedades e relações, além de eventos espaço-temporais, processos, causas etc. Embora uma ciência formal como a matemática não investigue eventos e processos causais, ela ainda assim investiga objetos abstratos como números, bem como as suas propriedades e relações. Os objetos de investigação da metafísica, portanto, não podem ser os mesmos que os das ciências particulares, nem empíricas nem formais. Eles dizem respeito a uma forma de objetividade extremamente abrangente, constitutiva do arcabouço ontológico comum ao campo do conhecimento empírico (no caso da causalidade, dos objetos materiais, do espaço e do tempo, dos estados de coisas, do evento, do processo...) ou abrangendo tudo, até mesmo o campo do conhecimento formal (como no caso da propriedade, da relação, da existência, do número, do fato, da necessidade e da possibilidade).
Embora os diversos sentidos aristotélicos da palavra ‘substância’ (ousia) sejam obscuros e discutíveis, quero notar que a investigação do que sejam as entidades particulares – principalmente do que sejam os objetos materiais – é intrinsecamente associada à investigação da substância. A investigação da natureza do objeto material enquanto tal é mais abrangente que a feita pelas ciências particulares, pois os campos de estudo das últimas envolvem apenas certas classes de objetos materiais, como a das partículas elementares na física, a das substâncias compostas na química, a dos seres vivos na biologia etc. Contudo, a investigação metafísica do que é um objeto material enquanto tal é mais vasta. Ela atravessa os campos hierarquizados das diversas ciências empíricas, o que não significa que os transcenda, que se torne meta-empírica, como historicamente se acreditou. A investigação metafísica pode muito bem ter um fundamento empírico, até mesmo nas ciências formais, embora no último caso ele deva ser abstrato e completamente geral.
Nesse primeiro sentido a metafísica se confunde com a ontologia, definida desde Parmênides como o estudo do Ser, incluindo o velho problema dos universais. Ele é também o sentido cujo resgate é indispensável, sendo mérito de Aristóteles tê-lo divisado claramente pela primeira vez. Trata-se, pois, da metafísica no sentido próprio, essencial por ser o único que delimita uma nova área do conhecimento. Os outros quatro sentidos da palavra ‘metafísica’ que distinguirei a seguir são em meu juízo mais ou menos espúrios, tendo sido associados ao primeiro por razões contingentes.
Embora os diversos sentidos aristotélicos da palavra ‘substância’ (ousia) sejam obscuros e discutíveis, quero notar que a investigação do que sejam as entidades particulares – principalmente do que sejam os objetos materiais – é intrinsecamente associada à investigação da substância. A investigação da natureza do objeto material enquanto tal é mais abrangente que a feita pelas ciências particulares, pois os campos de estudo das últimas envolvem apenas certas classes de objetos materiais, como a das partículas elementares na física, a das substâncias compostas na química, a dos seres vivos na biologia etc. Contudo, a investigação metafísica do que é um objeto material enquanto tal é mais vasta. Ela atravessa os campos hierarquizados das diversas ciências empíricas, o que não significa que os transcenda, que se torne meta-empírica, como historicamente se acreditou. A investigação metafísica pode muito bem ter um fundamento empírico, até mesmo nas ciências formais, embora no último caso ele deva ser abstrato e completamente geral.
Nesse primeiro sentido a metafísica se confunde com a ontologia, definida desde Parmênides como o estudo do Ser, incluindo o velho problema dos universais. Ele é também o sentido cujo resgate é indispensável, sendo mérito de Aristóteles tê-lo divisado claramente pela primeira vez. Trata-se, pois, da metafísica no sentido próprio, essencial por ser o único que delimita uma nova área do conhecimento. Os outros quatro sentidos da palavra ‘metafísica’ que distinguirei a seguir são em meu juízo mais ou menos espúrios, tendo sido associados ao primeiro por razões contingentes.
(2) O segundo sentido a ser destacado é o que herda a noção aristotélica de metafísica como investigação do supra-sensível como Deus, a assim chamada teologia. Todavia, nesse sentido a metafísica acabou por ser transformada em filosofia da religião, que hoje se tornou uma área vivamente discutida da filosofia, mas completamente separável da metafísica no sentido próprio, pois sem amplitude de escopo, dado que em geral referente a um particular único, que é Deus. Reduzida a isso, ao menos, a teologia não pode ser chamada de metafísica.
(3) Um terceiro sentido é o que se deriva da primeira definição aristotélica, segundo a qual a metafísica é a ciência das causas e princípios primeiros, investigada pelos pré-socráticos. Trata-se da metafísica como cosmologia. Todavia, parece que esse terceiro conceito acabou por ser absorvido pela física e astronomia contemporâneas, não pertencendo mais propriamente à filosofia, a menos que ele acabe sendo resgatado dessas ciências para ela (a cosmologia contemporânea tornou-se altamente especulativa).
(4) Há ainda o sentido que herda o caráter especulativo, transcendente, da metafísica aristotélica como teologia. Trata-se da filosofia especulativa que busca um conhecimento que de alguma forma pretende ir além daquilo que é possível saber através da experiência sensível. Esse é o sentido negativo, geralmente derrogatório do termo, proposto por Kant em sua filosofia crítica. Contudo, tratamentos especulativos sérios da natureza das coisas, como o anti-realismo com relação ao mundo externo e o libertarismo com relação ao livre arbítrio, podem ser considerados herdeiros desse sentido, tratando-se aqui de algo similar ao que P. M. Strawson chamou de metafísica revisionária, que busca propor especulativamente uma nova e supostamente melhor maneira de conceber o mundo(7).
(5) Há, finalmente, um sentido difuso da palavra que eu gostaria de chamar de investigação das “big questions”. Qualquer problema realmente cabeludo da filosofia, na medida em que for possível vinculá-lo a um ou mais dos sentidos anteriores, é apto a ser chamado de metafísico. É assim com o problema do livre arbítrio, uma vez que ele tem relações com a natureza da realidade – pelas questões do determinismo e causalidade – e também com problemas teológicos – por questões como a do fatalismo, da onipotência divina etc. É assim também com os problemas da chamada metafísica da mente, como o da natureza da consciência e da relação mente-corpo, posto haver aqui um resquício de questões sobre tipos de propriedades e de substâncias na suposta transcendência do mental sobre o físico. O mesmo pode ser dito (embora somente alguns poucos cheguem tão longe) de problemas filosóficos intratáveis, como o da indução e o do mundo externo, ainda que eles sejam essencialmente epistemológicos. Eles são chamados de metafísicos por se conectarem com a vasta questão da natureza da realidade e por uma eventual relação com questões de âmbito teológico ou transcendente... E o mesmo se pode dizer das questões morais fundacionais, do que Kant chamou de fundamentos metafísicos da moral. Até mesmo uma antropologia filosófica que investiga em grande estilo coisas como o sentido da vida ou a condição humana (como em Heidegger, por exemplo), também pode ser dita metafísica no sentido de se colocar “big questions” sobre os únicos seres capazes de refletir o universo e a si mesmos.
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017
Reportagem muito interessante de Bruno Molinero Folha.
Na volta às aulas, conheça 3 livros de filosofia para crianças
POR BRUNO MOLINERO
Qual é a essência do ser humano? Por que estamos aqui? O que importa mais: a sociedade ou os indivíduos? As pessoas são boas ou são más por natureza? Existem mentiras toleráveis?
Seja porque a disciplina só entra no currículo escolar perto do ensino médio ou porque adultos acham tudo isso muito complexo para entrar na cabeça de meninos e meninas, essas e outras perguntas que enchem a cabeça de caraminholas esbarram numa área do conhecimento pouco relacionado ao universo das crianças: a filosofia.
Mas criança geralmente adora “filosofar”. Três livros apresentam para o público infantil algumas questões que há séculos atormentam os seres humanos e que já foram objetos de estudo de grandes pensadores. Confira abaixo.
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LIVRO DAS PERGUNTAS
Nada é mais “filosófico” do que fazer perguntas –aliás, dizem que o grego Sócrates adorava ficar questionando seus discípulos até que eles chegassem à verdadeira resposta sozinhos. Por isso, os capítulos do livro “Filosofia para Crianças” começam sempre com uma pergunta cabeluda. O mundo é real? Como decidimos o que é correto? Regras são necessárias?
Cada parte do livro apresenta uma variedade de conceitos e ideias para esses temas. A partir deles, são mostrados os pensamentos de diferentes filósofos, como Platão, Aristóteles, René Descartes e Immanuel Kant (para ficar só nos mais famosos). Claro que as dúvidas não têm uma resposta definitiva nem pronta –caso contrário, não seria filosofia, certo?
Autores Sarah Tomley e Marcus Weeks
Tradutora Maria da Anunciação Rodrigues
Editora Publifolhinha
Preço R$ 57,90 (2014, 142 págs.)
Leitor avançado
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HISTÓRIAS PARA PENSAR
Além de perguntas, filósofos gostam muito de histórias. O livro usa sete delas para trazer à tona alguns conceitos de pensadores importantes. Assim, entende-se um pouco mais dos conceitos de ética e moral do alemão Immanuel Kant a partir de um problema no troco da Mariana. Ou do que é luta de classes para Karl Marx numa ida de pai e filho à feira.
Além das imagens típicas de almanaque, como ilustrações e fotos de filósofos e situações cotidianas, a obra traz desenhos delicados de Maira Chiodi, que fazem todos os temas sérios parecerem coisa de criança. Um deles abre este texto.
Autor Samir Thomaz
Ilustradora Maira Chiodi
Editora Moderna
Preço R$ 44 (2016, 88 págs.)
Leitor avançado
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FANTASMA DA BIBLIOTECA
O garoto Diógenes ficou de queixo caído quando encontrou no jardim um vaga-lume –mas não um inseto qualquer: um que fala e filosofa. O bichinho mostrou o caminho das pedras para o menino entrar na biblioteca do avô e conhecer toda a seção de filosofia de lá, com livros de Confúcio a Zarastustra, de Santo Agostinho a Freud. Passando, é claro, pelo grego (e xará) Diógenes.
Óbvio que o avô ia perceber que alguém estava rondando suas estantes. Mas, como nenhuma obra saía do lugar, ele pensou que se tratava de um fantasma. Aliás, será que fantasmas existem? Taí um tema que pode incentivar uma boa conversa filosófica.
Autora Carolina Michelini
Ilustrador Michele Iacocca
Editora Moderna
Preço R$ 44 (2016, 48 págs.)
Leitor avançado
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